segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Dia #02 - O dia em que a França está fechada...


Lezo, País Basco, Espanha (por muito que custe ao nossos amigos bascos), 8.00h na hora local (por muito que nos custe a nós!!): Despertar!
Asier e Onintza, que nos receberam e deram guarida de forma incondicional, têm que ir trabalhar. Os “ocupas” João, Fernando e Laranja não têm nada que fazer! Nada! Apenas trilhar cerca de 600km até ao destino, Thenay, para aí permanecerem acampados por mais 3 dias….sem fazer nada! E aqui emociono-me; estar sem fazer nada é das coisas que faço com maior brilhantismo. Modéstia à parte, sou mesmo bom nisso! Pena é que, seja ainda uma profissão mal vista e mal acreditada.
O jantar com os 2 anfitriões, que alugaram uma casa muito simpática em Lezo, arredores de Donostia foi, como sempre, muito animado! Mesa cheia e recheada, sidra basca infinita, troikas e 4L’s ao barulho sob o olhar tranquilo de Kurt Cobain. Esperamos em breve poder retribuir por terras lusas a calorosa recepção à dupla basca Asier e Onintza!
Enfim, depois da curta noite para mim (terei dormido umas 6 horas) e de uma gigantesca noite para o Fernando, recém-pai (terá dormido umas 6 horas), lá saímos de Lezo, em direcção à fronteira de Hendaye. Antes, o café de despedida com Asier, em Irun, que gentilmente nos guiou de forma a evitar o mega posto fronteiriço da A8 espanhola  com a A63 francesa - Autoroute de la Côte Basque (a estrada dos emigrantes lusos, magrebinos, e claro está, dos nossos amigos camionistas)

Lá passámos a fronteira e de novo grande desilusão nesta temática: só nos apercebemos que estávamos em território francês pela mudança gráfica da sinalética “routière”. Já ninguém nos revista, já ninguém desconfia de nós, já ninguém nos pede para desembrulhar as toalhas de praia, já ninguém fica em estado de dúvida após a apresentação dos nossos BI’s tamanho A5…nada! Uma vergonha! Nem uma placazita quadrada, azul, com a palavra “France” dentro de um círculo de 12 estrelas amarelas!! Nada!
Primeira paragem: Saint-Jean de Luz. Bonita e simpática vila e estância balnear. O mês de Julho enchia os estacionamentos de acesso às praias. No entanto, as praias estavam vazias. Ainda ficámos a pensar se seria pela semana ameaçar chuva ou se seria pela normal temperatura da água a 14ºc….De facto, uma verdadeira praia “a lá française”…cinza, fria, escura e vazia!

O tempo urgia e ainda só tínhamos efectuado cerca de 30 quilómetros dos 600 previstos. Resolvemos fazer “um tiro”, por autoestrada (A63) até Bordeaux. A partir daí, tomaríamos a nacional (N10) até Angulême.
Quem opta por esta modalidade do “tiro” encontrará uma AE totalmente plana, em linha recta por entre pinhais; uma monotonia paisagística só superada pela nossa A8 na zona do Pinhal de Leiria…
Mas a animação estava prestes a chegar! Experimentem parar numa estação de serviço desta autoestrada, na segunda quinzena de Julho, e experimentem partilhá-las com os 6 milhões de magrebinos que por esta altura as ocupam (o termo é mesmo “ocupação”) nos seus ansiados regressos ao norte de África…Aqui sim, prova de fogo!! Só vendo, sentido e cheirando! As necessidades terão obrigatoriamente que ficar para mais tarde. Resolva-se apenas encher o depósito de gasolina à Laranja! E toca a fugir – pensámos nos-! Mas nem a fuga foi fácil; conseguimos a proeza de nos perder dentro daquela estação de serviço do tamanho do aeroporto Charles de Gaulle. De todo, perdidos entre milhares de camiões TIR, não encontrávamos a saída em direcção a Bordeaux. Entre perguntas em vários idiomas aos “campistas” ali sitiados, constatávamos que ninguém nos conseguia ajudar e muito menos ler e interpretar um simples mapa de estradas Michelin na velha versão de papel…Por fim, lá encontrámos a saída, através dum túnel escondido sob a autoestrada e então fugimos a todo o gás (87 km/h).
Ultrapassada a cidade de Bordeaux, resolvemos entrar na velha estrada nacional (N10 Bordeaux-Paris). Deixámos de rolar a 87km/h na autoestrada para passar a rolar a 87km/h na nacional. Como a fome apertava, era urgente encontrar uma village para satisfazer a gula. Aqui, apercebemo-nos que outra aventura nos esperava: a de tentar usufruir de um qualquer serviço – neste caso, restauração – num dia 14 de Julho em França! Dia nacional do país, dia da Bastilha. A França está completamente Fechada! Nem sei como entrámos! Já pelas estradas departamentais tentámos a linda Châteauneuf-sur-Charente, local de excelência de produção de cognac. Nada! Tout c’etait fermé! 
Mais uns quilómetros em direcção a Angoulême por uma estrada que nos ia oferecendo paisagens do mundo rural fabulosas. Ao menos isso! Mas, quem procura sempre alcança e o milagre aconteceu: um restaurante aberto com uma acolhedora esplanada sob videiras! Vive la France! Et….vive “l’adition du repás”!! Quase 40 euros por 2 míseros patés de canard, umas saladinhas e as bières Kro do costume!
“Almoço” no bucho e novo tiro até Tours. Ainda só tínhamos percorrido metade do que tinha sido previamente estabelecido por nós. Sempre pelas estradas departamentais (as famosas “dês”), até Tours. Pelo meio ficavam, a cidade de Poitiers (Cidade do Futuro e do Conhecimento), monumentais (em beleza e dimensão) paisagens agrícolas que nos lembram que afinal existe agricultura na Europa e, …uma França fechada para feriado! Maldito dia da Bastilha! Resta-nos...just drive..





O nosso destino (sem saber ao certo qual era) aproximava-se. O sol, apesar da hora tardia, ainda brilhava, alimentando-nos a falsa esperança de uma semana de bom tempo pela frente. Após contornar a cidade de Tours, por sul, iríamos começar à procura de poiso. Por uma estrada lindíssima junto a um afluente a sul do Loire apontamos em direcção a nascente, ou seja, Thenay.
Aqui o problema é escolher o local onde ficar, pois temos vontade de ficar em todas as aldeias por onde passamos. O nosso limite seria a hora de chegada a qualquer village, uma vez que a partir das 20.00h, jantar num restaurante apresenta-se como uma missão quase impossível. E assim foi; pelas 20.00h chegávamos à vila de Bléré. Alojamento num dos milhares de Logis de France existentes pelo país e pizza na esplanada da vila! Estávamos a menos de 30km do objectivo de viagem: Thenay! Cansados, orgulhosos pela grande prestação da nossa quase “quarentona” viatura e com o estômago cheio de paisagens magníficas (de comidinha, vinha vazio..)!!





1600km já tinham sido percorridos sem quaisquer incidentes, tanto na viatura como na nossa estrutura óssea…
Amanhã começa o grande weekend!! E a França volta a estar aberta!!

fotografias:
i . Algures entre Poitiers e Tours...
1-2 . com Asier, em Irun;
3-4 . Saint-Jean de Luz;
5 . "a magrebina" estação de serviço de Lugos (A63);
6 . a caminho de Châteauneuf-sur-Charente;
7 . "almoço" na região de Angoulême;
8-13 . "just drive..." (D910 Piotiers-Tours);
14 . Les Îles (D976);
15-19 . Bléré

17 comentários:

  1. I'm enjoying these instalments and your comments about France, even if Google Translate is a little eclectic. Trust me, France is as dead any other day as it is on Bastille Day, and always horribly overpriced. But as you know, I'm in Lyon, and I wouldn't be there if I didn't like certain things. You must come one day!

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  2. Que grande relato! Na foto magrebina vê-se que o João está com ar de pânico e pronto para fugir antes que lhe tentem vender iphones quad-sim!

    Que grandes dias estes carago! Bem, o meu, comparávelmente com o vosso não foi assim tão agradável!

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  3. Este é para ti João...
    Em tempos que já lá vão, no local onde trabalho e que tu por afazeres profissionais por vezes visitas, estava eu feliz da vida, tinha ganho um GPS num concurso!!! GPS esse que tu tanto criticaste, afinal eras do tempo (até parece q temos uma grande diferença de idade) do velhinho Mapa Michelin!!! Tenho cá para mim, que nessa Estação de Serviço comparada ao Aeroporto parisiense, quando te viste completamente perdido, deves ter chegado à conclusão que já te deverias ter convertido às Novas Tecnologias!!!!!
    Admite, vá lá...
    AAHHHH e é escusado, se não te lembrares do episódio, tentares negá-lo! Podes, isso sim, informar-te junto do meu irmão da infinita capacidade da minha memória...

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  4. @Manéla
    ..nem vou discutir a tua infinita capacidade de memória porque a minha, está completamente falida!! De qualquer forma, o que dizes faz algum sentido! Reconheço alguma utilidade nessa treta chamada GPS. Deu-nos muito jeito para encontrar os nossos amigo espanhóis nos novelos dos arredores de Madrid ou San Sebastian! No entanto, o meio de navegação por excelência dentro da 4L, era o novíssimo Michelin "France 2011", cuja voz era de alguém que sabe de estradas e que tu conheces muito bem ;)
    Nota adicional: a 4L levava 3 GPS!!!

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  5. :)
    Se, de facto, estavam lá milhares de camiões TIR, acredito q até com 3(!!!!!) GPS's fosse complicado...
    Mas continuo sem perceber a necessidade de um Mapa Michelin quando se dispõe de 3 GPS's...
    Mas ok, deve ser uma questão de gosto...
    :)

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  6. "Mas continuo sem perceber a necessidade de um Mapa Michelin quando se dispõe de 3 GPS's...
    Mas ok, deve ser uma questão de gosto..."

    Simples. Muito simples: total visualização e domínio espacial do território "a atacar"!!

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  7. Ohh caro amigo!!
    Os GPS's tem todas as funcionalidades e mais algumas!!!!
    Lá em casa temos 3!! Pera!!!! O dos telemóveis contam??? Então temos 5!! Mapas?? Se calhar quando a minha filha for para a escola terei de comprar... não sei bem onde, mas se tiver duvidas, conto contigo, ok??
    :) Bjinhos... Jota!

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  8. Oh Mana, é simples, o mapa pode abrir-se no capot do carro!! :)

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  9. :) Manéla, não brinques! É que tu e a Raquel podem mesmo contar com o meu arquivo!
    Só tens que dizer qual o país e o ano!!
    Falo a sério ;)

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  10. Claro q se pode abrir no capot do carro!!! Torna-se muito útil naquelas tarde maravilhosas de Inverno... ou quiça nos dias das famosas trovoadas de Maio... :))

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  11. Amigo, algures, no futuro (e as escondidas da Troika, claro está), arranjas o da Austria???

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  12. @ Manéla: Arranjo sim senhora! com um único "se não"; é de 2009....
    mas a Áustria mentem-se em estado "original" praticamente desde a 2ª Guerra...no entanto, este Michelin 2009, já refere os antigos Campos de Concentração enquanto locais de interesse turístico...
    Mais um vez, falo a sério ;)

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  13. E agora também a sério...
    Visitar a Áustria é um sonho...
    Se a Troika deixar, e se este Titanic (sabes ao que me refiro) não afundar, pelo menos para já... quem sabe...?

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  14. http://anitagraz.blogspot.com/

    aqui encontras histórias (muito) bem contadas e fotografias bem "sacadas" desse estranho e lindíssimo país!! Portanto, se quiseres algumas "dicas", usa e abusa!!

    ...e que se f*** a troika!! Manda-te!!

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  15. Once upon a time there were the mobile phone bullies: "You haven't got a mobile? Everybody has a mobile, you can't live without them, yada yada..."
    Then along came the Facebook bores: "You mean you're not on Facebook? Everybody's on Facebook, you're missing out, blah blah..."
    And now what, the GPS Mafia? "We can do everything your map can but on a frustratingly small screen giving no useful overview and consuming lots of power".
    On the contrary, "...total visualização e domínio espacial do território "a atacar"!! "
    I couldn't agree more. For the intelligentia, absolutely nothing else will do! ;)

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  16. Fantástico relato Jota!!, mas.. vive la France??. Tudo fechado a las 6 de la tarde??, 40 euros por un paté de canard e una birra??, por Deus!!, en España con 40 euros echas gasolina, almuerzas un menú camionero de 9 euros que te sale por las orejas y cambias el aceite en el Mega-Puti-Clube, adosado a la gasolinera!!!

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  17. este blog começa a bombar a sério
    this blog is "bombing" seriously :)
    Aprecio esta nova dinâmica após Thenay!... O que me faz pensar que novas iniciativas podem acontecer...
    Os relatos são bons e as fotos também!...

    We still want more!...

    Where are the souvenirs!?

    Pardon - où sont les cadeux pour les amis? :)

    à Bientôt

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