Cinco meses para relatar 9 dias
de viagem? E ainda faltam dois dias de relato até à tugolândia!! Assim, definitivamente,
não dá. É este o ritmo que o país leva, mergulhado na inércia e na falta de
produtividade. Para contrariar esta má imagem que vendemos lá para fora –
juntamente com o Fado – propomo-nos, com responsabilidade e determinação, a
fechar este maravilhoso relato antes do final do Ano! São metas duras as que se
avizinham, pois relatar os dois dias faltantes
em menos de 20 dias, não está ao alcance de qualquer um; ainda para mais
sabendo que, os dois dias que faltam foram quase de “tiro”, por eutoestrada
desde o interior dos Pirinéus até Lisboa. E, atravessar a Espanha por autovias e/ou autpistas tem muito que se lhe diga! Mas não nos desconcentremos no
que aí vem.
O gráfico estatístico relativo às
visitas aqui ao nosso blog represente bem este dia de viagem; Sempre a trepar
ao início; sempre a descer para o fim.
Propúnhamo-nos a uma tirada algo
ambiciosa caso a orografia do terreno se apresentasse vantajosa. Talvez percorrer
cerca de 350 km e pernoitar no coração dos Pirinéus, bem junto da fronteira
franco-espanhola. Logo, concluímos que o terreno não se apresentava vantajoso
às características da Laranja e que para fazer tão poucos quilómetros iríamos
derreter todo o dia!
Partida de Lamalou-Les-Bains (..e não de Los Angeles)
Tentámos ganhar algum tempo nas
planícies do Haute-Garronne. Aqui a paisagem é imensa e a linha do horizonte
parece-nos inacessível. Saídos de Lamalou-les-Bains, apontámos a Laranja em direcção
a Castres, região de Toulouse. Os famosos campos de girassóis a perder de vista
são a imagem de marca desta região. “Outra” das imagens de marca da região –
sazonal, claro- não esteve presente: o calor. Felizmente! Pois nesta região as
altas temperaturas são asfixiantes. Tempo ganho nas magníficas planícies da
região sul de Toulouse, seguimos sempre pelas estradas secundárias, em
excelente estado de conservação, bem como totalmente desertas. Aliás, se me
permitem mais uma vez os parênteses, constatámos que a França é um país muito
bem conservado mas tivemos alguma dificuldade em descobrir os habitantes. Tal e
qual como Portugal…
Região Castres-Revel
Sorèze (Revel)
Região de Revel
hora da "bica".
No meio dos campos de girassol, conseguíamos
vislumbrar ao longe a imensa cordilheira dos Pirinéus. E é mesmo imensa!! A “estonteante”
velocidade a que a Laranja nos transportava dava-nos tempo para percebemos, à
medida que as montanhas cresciam que, talvez não tivesse sido a melhor opção de
caminho sujeitar um veículo de 38 anos com mais de 200kg de carga a tal feito…Mas
não havia volta a dar! O “muro” natural que separa a Europa da África estava
ali mesmo á nossa frente! Palmadinha reconfortante no dorso do cavalo (leia-se
volante) lá começávamos a “trepa”. “A”, julgava eu na minha defensiva ignorância…pois
a verdade é que estávamos perante “as”…! O cenário tornou-se ainda mais
tenebroso quando repentinamente escureceu, o nevoeiro apoderou-se de toda a
montanha e uma chuva miudinha insistia em fazer os limpa-viros da Laranja
trabalharem mais uma vez! O silêncio da montanha, potenciado pelo nevoeiro,
completava o ramalhete. Não foram raras as subidas aos diversos “Col’s” em 1º
velocidade, pontualmente brindada com uma 2ª velocidade. Não sabíamos se deveríamos
fazer umas paragens para descaso da máquina ou se deveríamos despachar a
cordilheira o mais rapidamente possível, até por a chegada da noite naquele dia
parecia que tinha sido antecipada. O bom senso do Palma lá ia dizendo “epá,
pára aí um pouquito…”. Parávamos, abríamos o capot para verificar eventuais danos no interior do vaso de
expansão…mas nada! Tudo cool; tudo calmo! Parecia que a máquina fazia aquele
percurso diariamente. Lá seguíamos nós, sempre a subir e perdendo já qualquer
esperança que pudessem existir descidas. Por fim e para animar, a nossa sede
por estradas secundárias levou-nos a perdermo-nos em plenos Pirinéus! O velho Michelin
em paper-mode deixou de ter a escala
e o detalhe necessário ao percurso escolhido e os GPS dos telemóveis apenas
indicavam um ponto a circular sobre um “nada sobre uma superfície verde” nos
mapas disponibilizados.
"ataque" aos Pirinéus, região de Saint Girons
Por fim, a derradeira descida....
Resultado: estrada sem saída nas entranhas
da montanha, junto a umas cabanas para estadas de Inverno…Nem cães havia!!
Meia-volta ao cavalo, voltar ao “ponto de partida”, referenciado no Michelin e
procurar abrigo para pernoitar. Com isto teremos “queimado” 2 horas de viagem.
A pressa para os descansos e o improviso levaram-nos até Bagnéres-de-Luchon,
perto do famoso Col du Tourmalet, a menos de 7 km da fronteira com Espanha.
Perto de tudo e ao mesmo tempo longe de tudo. Nesta pequena cidade “de Inverno”,
o acolhimento foi maravilhoso. Mais um bom hotel parado no tempo dava-nos
guarida. Ao jantar fomos servidos por uma simpática e muito bonita jovem
Cabo-Verdiana e, em fim de viagem, a língua portuguesa dominou!
Chegada nocturna a Bagnéres-de-Luchon
Descanso de parte da "crew"...
O esforço sobrenatural a que a Laranja foi submetida neste dia, só teve paralelo em grandiosidade, ao brinde paisagístico com que os nossos sentidos foram brindados. Mas…o cheiro do fim desta trip já andava no ar…
...Une bière s'il vous plait!!
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