Neste ritmo de escrita,
arriscamo-nos a terminar o relato de “11 simples dias num chuvoso Julho francês”,
por altura do quinquagésimo segundo aniversário da nossa querida 4L. Será que
teremos sol para o 52º aniversário?
Este 8º dia de tour ou trip terá
sido, porventura, um dos mais entusiasmantes do percurso. Provavelmente, a
Laranja não diria o mesmo, dada a altimetria acumulada ao longo do dia. Estava
a nossa Laranja longe, muito longe de saber o que lhe estaria reservado para o
dia seguinte. Lá iremos (daqui a uns dias…). Espero que antes do tal 52º
aniversário…
Para este dia estava reservado fazer
grande parte do Val du Tarn, em pleno Parc
National de Cévennes. Esta é uma área, do vastíssimo
território francês, com baixíssima ocupação populacional e muito procurada por
turistas para algumas práticas de desportos ditos radicais. BTT (VTT en francais…e também em Esposende),
caminhada, canoagem (muita canoagem), parapente, são alguns dos desportos que
por ali proliferam nesta altura doa ano. Como para nós, nenhum desses desportos
se apresentava suficiente arriscado, optamos por calcorrear a região ao volante
da Laranja.
f. 1-6: D998 (La Canourgue-Sainte Enimie)
Foi aqui que a nossa veia
cinematográfica apelou a todos os nossos sentidos: - por favor, filmem isto! -
Disse a veia aos sentidos. Parte do trailer (*) da nossa viagem começou a ser filmado aqui, em plena D 998, à saída de La Canourgue. Espera-se
que o filme fique montado na totalidade antes do sexagésimo aniversário da
nossa querida 4L.
f. 7 e 8: D998 (La Canourgue-Sainte Enimie);
f. 9 e 10: D998 (La Canourgue-Sainte Enimie...com Sainte Enimie em vista)
Mal refeitos, em termos cardíacos
falando, de tanta emoção visual que esta região nos oferece, eis que surge no
horizonte próximo a fabulosa aldeia de Sainte Enimie! 4L atirada para a beira
da estrada e toca a derreter o cartão da máquina fotográfica como se não
houvesse amanhã, ou logo à tarde, ou mesmo almoço! O tempo urgia…mas que se
lixe! Vamos visitar em força a aldeia! Enquanto percorria de forma solitária as
ruelas do burgo – o Palma tinha seguido por outros “trilhos”- pensava, de forma
mais que recorrente nesta viagem, “é aqui que quero morar!”. E queria mesmo!
Entretanto, o tempo passava e os
quilómetros não. Dentro das 80 horas que se seguiriam deveríamos atingir
Lisboa. A planificação prévia de ir tomar uma cervejinha a Monte-Carlo ficava
cada vez mais “fora-de-mão”. Erro de casting óbvio que tomou com base de
cálculo as potentíssimas 4GTL, de 34 CV e mais de 1100cm3…
f. 11 a 18: Sainte Enimie por dentro e com a concorrência do costume....
Sainte Enimie para trás e todo o
vale do Tarn para a frente. Paisagem de dimensão indescritível, por
desfiladeiros que, literalmente, não cabem na objectiva da Olympus. De
pequenos, passamos a minúsculos. Valha-nos a cor do carro, caso contrário,
ficaríamos perdidos para sempre naquela imensidão de paisagem.
Almoço, à beira da estrada e
debaixo de um rochedo de altura infinita na região de Pougnadoires. Aqui, no
mais limpo céu de verão, o sol não entra. Nunca entrou! Valeu-nos o minhoto
Gazela, para fazer brilhar o desfiladeiro, bem fresquinho pela nossa geleira de
fabrico…francês!
f. 19 a 25: Pougnadoires, e vinho verde!
De um lado do desfiladeiro do
Tarn, o imenso maciço rochoso; do outro, pequenos aglomerados de casas
campestres cujo único acesso eram pequenas embarcações para atravessamento do
rio. Muitas destas habitações estão completamente abandonadas enquanto outras,
permanecem com vida graças ao aluguer sazonal por parte de turistas que
prescindem do óbvio.
f. 26 a 30: Pougnadoires - Le Rozier
Mas se estávamos à cota do Tarn,
havia que transpor a cordilheira montanhosa, qualquer que fosse o nosso
destino. Adivinhava-se, à partida, grandes dificuldades para a Laranja (**)
enquanto o relógio não parava de nos lembrar que o tempo fugia. Um café em Les Vignes para retemperar
forças e lá atacaríamos a impiedosa subida. Paragem para cliques fotográficos em Le Rozier e toca a continuar a subida infinita.
Mas tudo o que sobe, calculamos que mais tarde ou mais cedo descerá. E assim
foi e com prémio: este foi, nas regiões altas de Le Vigan, a contemplação do
mar Mediterrâneo a Sul! Talvez estivéssemos a cerca de 50 ou 60 quilómetros da
costa (na direcção de Montpellier) mas a vista era completamente deslumbrante
e, ainda por cima, abençoada pelo Astro-Rei. Mais uma vez, a paisagem não cabia
na Olympus e, mesmo no espaço virtual do nosso imaginário era difícil encontrar
alojamento para tanto e tão bom!! O que vale é que o pára-brisas da Laranja nos
limita os alcances sensoriais!
f. 27 a 30: A Laranja, a fenda e o Mediterrâneo...
E em sintonia com o Astro-Rei,
também nós íamos “caindo” para a planície do Sul de França. Um tiro arbitrário
no Michelin ditaria a zona de repouso.
f. 31 a 36: D25, direcção Lodéve
E assim foi em grande estilo; o tiro
saiu em Lamalou-les-Bains, uma pequena vila termal para os que fogem das
confusões balneares de Béziers. E nós, como já somos gente de alguma idade, lá
fomos até às termas. Mas sem direito a massagens!
f. 37 e 38: noite animadíssima de Lamalou-les.Bains...gente por todos os lados, bares e cafés "á pinha"....
(*) no passado fim-de-semana,
durante um passeio de bicicleta entre Lisboa e Santarém, organizado pela
Federação Portuguesa de Cicloturismo e que terá contado com mais de 600
ciclistas, fui abordado em plena prova por um companheiro. Este,
cumprimentou-me e de seguida colocou-me a seguinte questão: “Thenay, diz-lhe
alguma coisa?” A minha surpresa foi gigante! E ele acrescentou “Eu estava a
reconhecê-lo, pois vi o filme!”
(**) Desilusão total para quem
“adivinhou” grandes dificuldades para a Laranja, pois não houve quaisquer
dificuldades! Prova superada com total êxito.