Mais um dia para devorar
quilómetros! Mais um dia a ameaçar chuva. Confesso que a ameaça de chuva nos
transmitia algum conforto…pois aquando da chegada do final do dia poderíamos
usar “aquela” desculpa para não acamparmos. O espírito “super-cool” e “neo-hippy”
das noites campistas em Thenay ainda nos atacava os ossos e criava alguma
perturbação na mente. E quando se acorda numa quinta, com todo o conforto, com
paredes, tectos, e um majestoso pequeno-almoço, só nos resta a tal reza secreta
para que, ao final do dia, as chuvas do verão francês nos abençoem. E a reza ia
funcionando…pois chovia quase o dia todo…
A sala de estar dos donos da casa
estava transformada em “zona de refeições”. Partilhávamos a grande mesa de
madeira, repleta com uns 600 croissants e compotas de toda a França com um casal
franco-holandês, para o tal majestoso petit-déjuner.
E onde há holandeses, há uma natural curiosidade pela Laranja. O motivo
mais óbvio prende-se com a cor (o laranja é a cor da oficial da realeza
holandesa). Também a matrícula suscita nesta gente alguma atenção, pois as
antigas matrículas holandesas eram em quase tudo idênticas às nossas oldies.
Também a nossa capacidade de falar francês impressionava esta gente que, por
norma, não domina mais do que a língua materna. Somos “pretos” mas muito cagões
e com razão!
Beaulieu-s-Dordogne | petit-déjuner com vista...
Carro carregado, elogios à
máquina e às nossas capacidades linguísticas realizados, lá seguíamos com a tal
ameaça de chuva. Destino: Sul, pois claro! Começava a aventura pelo Massif
Central francês. Uma das áreas menos povoadas de França, com uma topografia
muito difícil (a Laranja agradecia…), entre os 1000 e os 2000 metros de
altitude e o atravessamento de 3 departamentos e igualmente 3 regiões de
França. Auvergne, Midi-Pyrénées e Languedoc-Roussillon eram as regiões por nós
atravessadas neste dia que comprovavam o nosso ataque ao sul.
A primeira paragem seria logo a
uns escassos quilómetros da nossa partida matinal. Chegávamos à pequena vila de
Bretenoux. Visita obrigatória ao mercado e às provas de queijos e enchidos que
gratuitamente nos serviam (ou não fossemos tugas…). Só faltaram as provas de
vinhos…mas como ainda não eram 10h da manhã, acabamos por optar pela “bica”
enquanto desenhávamos o percurso sobre o Michelin.
Bretenoux (15) | Vila e mercado medievais. Como nós.
Pela D920 lá descíamos sempre
abençoados pelos nossos secretos desejos em reza. E quando estes desejos nos caem (pelo interior
do carro) sobre o pé esquerdo é sinal que, de facto, começa a chover com força.
D920 Aurillac-Montsalvy | Depois da tempestade, a bonanza no alcatrão...
Passávamos por Montsalvy, Entraygues-s-Truyère
e Estaing. A fome apertava e havia que montar o pic-nic. Claro está que, o mesmo
pic-nic começou no exterior e acabou de forma abrupta no interior da viatura. E
não posso transcrever aqui o palavrões que nos acompanharam aquando do regresso
ao carro.
Mas, tréguas na meteorologia acontecem. E foi o que aconteceu durante
a tarde. A Laranja secou ao sol enquanto fizemos um pit-stop num pequeno café de beira de estrada para…ver imagens do
Tour!! Pois é…o Tour de France faz com que a França pare quase por completo aquando
das transmissões televisivas dos últimos quilómetros. Se as vilas e aldeias
francesas raramente têm gente pelas ruas durante o dia, imagine-se, durante esse mesmo dia, se houver uma transmissão televisiva do Tour…
Entraygues-s-Truyère | "Le café de la ville"..Tour au mur!
Entraygues-s-Truyère (12)...
Estaing (12)...
Para o final do dia estava
guardada uma bela surpresa; a passagem pela aldeia de Sainte-Eulallie-d’Olt.
Esta pequena localidade faz parte de um percurso de aldeias históricas
francesas, à semelhança do que por cá existe. São locais mágicos onde desejamos
que o planeta pare de rodar por alguns momentos e onde confirmamos que, sem
qualquer dúvida, somos mesmo muito privilegiados!
Sainte-Eulallie-d'Olt (12)...
Aqui, reparem no Palma vestido "à verão"...francês!
Por fim chegámos a La Canourgue,
pequena vila onde iríamos pernoitar antes de atacar as fabulosas e imensas cordilheiras
montanhosas do Parc National de Cévennes.
Mas havia um petit problema; Estava um sol magnífico. Nada impedia a montagem de
uma tenda num qualquer camping local. Olhámos um para o outro e em silêncio
comunicámos: “este hotel routièr de 2
estrelas, que aparentava estar parado desde os anos 70, e que estava ali bem à
nossa frente, teria boa pinta para acolher um carro dos anos 70 conduzido por 2
dinossauros da mesma época…” E tinha! Tinha chovido de manhã, também valia! Que
se lixe a tenda!
La Canourgue (48)...
Estávamos cada vez mais perto de aqui chegar....
...o fim do mundo é em Entraygues-s-Truyère
...o gato com ar vadio, do topo, também é habitante do fim do mundo, mas em Sainte-Eulallie-d'Olt (12)...
Fantástico relato!!
ResponderEliminarFantásticas imagens!!
Fantástico viagem!!
Mais o verão frances...There is no perfect world....
Abraços from Galapagar!!
Grandes fotos!
ResponderEliminarOs idosos falariam do Pinto da Costa?
From the moment you said you were branching off towards the Auvergne, I thought 'Yes! Yes! I know where this is heading'. I'm reading this whilst looking at the big map of France in front of me on my wall, and every village you mention fits my suspicion, but then you stop short at the end of the day like a big tease. So close, yet so far, will it be epic fail or epic win? The suspense is killing me...
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