Claro está que não cumpri a
promessa de terminar este relato dentro do ano das comemorações do
quinquagésimo aniversário da 4L…Assim sendo, este blogue, com este tema,
entrará em hibernação já durante o ano #51 de vida da mais espectacular,
fabulosa, apaixonante e incontornável Renault 4 (desculpem lá, mas estas
baboseiras pirosas tinham que ser ditas)!!!
A animação já não é muita; tanto
hoje, enquanto escrevo, como naquele dia 22 de Julho, em Bagnères-de-Luchon. Após os croissants matinais
da ordem, em menos de uma hora atingiríamos a fronteira franco-espanhola Fos
(fr) – Les (es), perdida na imensidão dos Pirinéus. Para trás ficava uma semana
de viagem que recordarei sempre (enquanto tiver memória…) como um dos melhores
momentos de vida que qualquer mamífero provido de razão poderá aspirar: viajar na companhia de
um grande amigo, ao volante de uma velha paixão em direcção à concretização de
um sonho, que muitos (onde me incluo) julgavam e julgaram como loucura e
demência. Afinal, tudo não passou da nossa “straight story” em que a velha
Laranja ocupava, com muito brio, o lugar do velho cortador de relva celebrizado
do filme do David Lynch. Bastou acreditar.
Bagnères-de-Luchon, a partida.
Como seria de esperar, a
“depressão” cedo se instalou no interior da VZ até que passássemos a fronteira.
Para que não faltasse nada, o céu continuava carregado de nuvens negras. De
repente, 10 dias de route esfumavam-se
numa fronteira fisicamente imperceptível, onde apenas uma placa na berma com o
nome España escrito a branco sobre
fundo azul e emoldurada por 12 estrelas amarelas, era a prova que França…já era!
A “depressão” dava lugar a uma raiva miudinha…
Pirinéus catalães, Pont de Suert.
No entanto, a paisagem não parava
de “crescer”. Pena era que, os nossos sentidos, não conseguissem atingir o
discernimento suficiente e necessário à apreensão da mesma, tal era o fantasma
do regresso. Quereríamos estalar os dedos e aparecer em Lisboa? Quereríamos começar
a programar o próximo aniversário da velha
e trabalhadora senhora? Quereríamos voltar para trás e derreter mais uns
euricos?? Eu não tinha respostas. Logo, siga em frente! E logo….de seguida, a
primeira bofetada sem luva branca: um mega engarrafamento para atravessar o
pueblo de Les! Motivo: obras. Obras, pois claro! As tais obras feitas com os dinheiros
dos outros, que nem sabemos quem são. Definitivamente entrávamos na África
sobre-sariana. E tudo era mais difícil quando sabíamos que a entediante França,
sem população, estava nas nossas costas a uns escassos 6 km…
Com cerca de 1 hora de viagem
desde Bagnères, já acumulávamos igual conta de atraso em relação ao
programado. E aqui o programa estava bem definido: um “tiro” até Galapagar, na
vizinhança Norte de Madrid, onde pernoitaríamos em casa dos nossos grandes
amigos Jorge, Vicky e Ayrton. Entre Bagnères e Madrid não haveria espaço nem
tempo a outras histórias. Apenas tínhamos que cumprir os mais de 700km programados
e tentar chegar a horas decentes para jantar com os nossos amigos.
Deixando Les para trás,
reabastecíamos em Vielha e Mijaran e atacaríamos a última e valente subida
“pirinesca”. Sempre com muito esforço e sempre com muito sucesso! Com os
Pirinéus a desaparecerem no retrovisor, o pára-brisas mostrava-nos a infinita
Planície.
Testemunho para posteridade: o preço do petróleo nos Pirinéus. Vielha e Mijaran.
Daqui para a frente, daqui para Sul. O "tiro".
Mérida estava no horizonte mais do que longínquo. Alias, a partir
daqui e a 90 km/h ,
tudo se afigura num horizonte mais do que longínquo. As referências próximas
evaporam-se no calor e a sensação de estarmos parados no meio do deserto é mais
do que real; é surreal. As horas passavam, ultrapassávamos Saragoça,
Guadalajara mas parecia que Madrid seguia à nossa frente e a uma velocidade
maior. O entardecer da Península começava a nascer e o calor fazia-se sentir numa só tarde tudo aquilo que não se sentiu em
10 dias. Madrid, nem sombra dela. Como se por aqui existissem sombras.
Até que, ao longe e ao fundo,
vislumbramos as Cuatro Torres!! Os 4 edifícios mais altos da Península Ibérica
provavam a nossa aproximação a Madrid. Por esta hora, já os nossos amigos
anfitriões deviam estar mais do que arrependidos por nos terem convidado a
pernoitar, pois já levávamos mais de 2 horas de atraso em relação ao previsto e
apenas tínhamos efectuado paragens para gasolinas, sandes de presunto ibérico e
para o Palma fotografar profissionais do lazer, de origem colômbio-venezuelanas,
nos motéis “à beira da estrada”.
Não foi difícil entrar no
emaranhado de autovias e autopistas dos arredores de Madrid para atingir
Galapagar. Mas só não o foi porque a VZ dispunha de 3 aparelhos de GPS!
Curiosamente, todos davam a mesma informação! Urgia um Viva à Finlândia!
Chegámos!!! Chegámos a Galapagar!
Jorge, Vicky e Ayrton esperavam-nos pacientemente! E que bem recebidos fomos!!
Inesquecível!! Depois do belo aperitivo caseiro, fomos jantar fora. Passava das
23 horas e as ruas estavam repletas de gente! As esplanadas cheias e arranjar
lugar para jantar, não foi tarefa fácil. O calor nocturno apelava à conversa e
a cervejita. Em menos de 24 horas a
Laranja tinha-nos transportado para geografias diametralmente opostas. Tão
perto, mas tão loge!
Infelizmente, havia que recolher;
na manha seguinte havia que fazer outro “tiro” de 700 km até Lisboa.
...da esquerda para a direita: Iron Man-Martin, Ayrton, Seabra & Palma. Como fundo: a CC de 1988 e a VZ de 1973.
Sábado, dia 23 de Julho. Sol,
calor, despedidas e regresso à pátria. Escorial para trás, Lisboa para a
frente. Não há que enganar. Paragem para esticar ossos e repousar a mecânica em Trujillo. Enquanto
bebíamos um fino, as televisões mostravam-nos que estávamos a deixar o planeta
ideal para, devagar, entrarmos no planeta real: um qualquer louco norueguês
matava 70 ou 80 crianças num acampamento de verão.
Restava-nos levantar a cabeça,
colocar a chave na ignição da Laranja, dar sinal de partida e regressar. A
chegada ao mundo real deu-se por volta das 20.00h.
Trujillo, em cima e....para trás.
Portugal, em baixo e....para a frente.
Agora, vamos encerrar para
balanço! E se 2011 teve um momento alto, esse momento terá sido o somatório dos
dias atrás descritos! Talvez voltemos em 2021 ou, quem sabe, antes!
Bom Ano a todos!
Special thanks to (ordem alfabética):
Ana Martins;
André Santos;
Asier Castellano;
Ayrton Martin;
Diogo Palma;
Fernando Seabra (pai e filho);
Filipe Peixinho;
João Silva;
Jorge Martin;
Onintza;
Pete Gumbrell;
Teresa Valadares;
Vicky Martin…
…e a todos os que perderam tempo
a ler-nos e a ver-nos!
Very, very, Special Thanks to Fernando Palma
& VZ (a Laranja)!